
ANDRÉIA PEDROSO “CHEIA DE BOSSA”
“CHEIA DE BOSSA” é uma homenagem à Bossa Nova em seus mais de 60 anos de existência. Cesar Ferreira no violão e Luiz Maia no baixo. Sob a ideia de aproximar a Bossa Nova do Samba e rever alguns pontos sobre a nossa MPB, o CHEIA DE BOSSSA foi construído sob a ótica de que o samba foi e é a principal raiz que deu muito contornos à Bossa Nova.
Assim, a leitura de “Influência do Jazz”, de Carlos Lyra, pode trazer algumas interpretações interessantes. Começa dizendo que o Semba já estaria à beira do esquecimento quando a Bossa
Nova veio lhe dar novos ares. Retruca: foi perdendo sua força pelo uso das dissonâncias do jazz.
Era o anúncio da crítica mais recorrente: “ora, perdeu a ginga para a harmonia”. E era dizer que a Bossa fez o Samba perder a carroça. Essa Bossa fazendo bossa com o Samba; um vai pra frente e pra trás o outro, de um lado pro outro. E, de certa forma, se pensarmos bem direitinho, no fundo a bossa está em admitir que, no final das contas, sua raiz está no SAMBA.
“Pobre samba meu
Foi se misturando se modernizando, e se perdeu
E o rebolado cadê? não tem mais
Cadê o tal gingado que mexe com a gente
Coitado do meu samba mudou de repente
Influência do jazz
Quase que morreu
E acaba morrendo, está quase morrendo, não percebeu
Que o samba balança de um lado pro outro
O jazz é diferente, pra frente pra trás
E o samba meio morto ficou meio torto
Influência do jazz…” – Carlos Lyra
Uma lógica semelhante tentou entremear a Bossa e o Jazz na insinuação de que a harmonia jazzística teria lançado as rédeas sobre a Bossa rompendo o front geográfico para dar voz a algoque seria menos brasileiro que o Samba.
É Por isso que o samba-canção “Linda Flor” Marques Porto é pontualmente escolhido para este repertório. É o samba-canção pioneiro que em 1929 assumiu o lugar da canção popular mais conhecida.
A História da MPB, conta que o uso da palavra bossa surgiu na década de 30, num Samba intitulado “São coisas nossas” de Noel Rosa – o sentido ali, se referindo a qualquer coisa muito particular ou jocosa no nosso jeito de ser brasileiro. Contam também que essa bossa se referia as paradas súbitas dos sambas de breque dando oportunidade as jocosas falas amalandradas do cantor, e essas paradas bruscas, muito possivelmente, foram a semente para o espaço e a grande importância que os improvisos têm no jazz e que passaram a ter lugar garantido na bossa
nova.
Bossa nova, praticamente três décadas mais tarde, foi o nome dado, casualmente, ao grupo surgido na zona sul com uma música nova cuja batida diferente transitou por um rol de compositores no exercício do violão diferenciado.
E isso tudo fez transparecer um certo ressentimento na cena carioca, uma rixa entre zona norte e zona sul. Afinal, afinal o samba estava consagrado há tanto tempo que na ocasião em que surge o mercado fonográfico sob força de investimento estrangeiro no país, um novo gênero toma a frente? Era inaceitável para quem esperava por esse momento de internacionalizar a nossa música através da produção que já estava consolidada. É compreensível!
A maior ousadia do CHEIA DE BOSSA é superar essa desavença inicial considerando uma nova realidade social e financeira entre os grupos que executam os dois gêneros: samba e bossa nova.
Embora, a bossa nova tenha surgido na zona sul, atualmente, ela faz parte do repertório de
muitos cantores e músicos que não são abastados de dinheiro, e sabemos também que o samba, hoje, move muito mais a roda do mercado fonográfico do que a música intimista dos Pubs e clubes da zona sul. Que ironia! e que causa mais justa!
O mais importante de tudo é não foram apenas dez anos de anos bossa nova. Há expectativa de nesse show mostramos o que tem sido realizado na composição brasileira tendo como ponto de partida, a bossa nova e tudo aquilo que foi trazido por ela tornando-se assim um legado. Então, existe um “a partir” da bossa nova que é firmemente assumido por autores como Edu Lobo, Dori
Caymmi, Joyce Moreno, Baden Powell, mesmo que esses artistas não se intitulem bossa novistas.
Sobre a paternidade da bossa, uns atribuem a João Gilberto, a Tom Jobim, a Laurindo de
Almeida, a Menescal, Bôscoli…? Não importa. O fato é que autores como Tom Jobim, Edu Lobo,
Dori Caymmi se fizeram presentes na composição deste gênero sem adotarem para si o termo
bossa-novistas.
Talvez por entenderem que sua produção musical pudesse passar pela bossa nova mas
caminhava também por outros gêneros musicais brasileiros como o baião, a cantiga, a catira, a
ciranda, a modinha e a valsa nos moldes da nossa brasilidade. Há quem diga, que hoje, a bossa
beira mais o erudito que o popular, deixemos essa discussão para um outro show.
O Cheia de bossa reflete o pensar de Andréia Pedroso sobre todas essas inquietudes que a faz
contextualizar essas relações de uma forma mais amigável, no sentido de que “Brigas nunca
mais” se façam necessárias acerca da brasilidade da bossa e da síncope que lhe batiza o samba
muito mais do que o bebop americano.
Dessa forma, no Cheia de bossa, a escolha de Andréia recai sobre estes compositores: Tom
Jobim, Edu Lobo, Carlos Lyra, Newton Mendonça, Marcos Valle, Joyce Moreno, Vinícius de
Moraes para comemorar e festejar a garota de Ipanema que jamais envelhece eternizando-
se no imaginário e no cancioneiro da Música Popular Brasileira.